SER - Augusto Massi

O pai que não tive
hoje  ainda seria moço.
O que dele ainda em mim sobrevive
Guarda a forma de um esboço?

O pai que nunca tive,
dizem, herdei o rosto.
O que dele em mim vive
e signo póstumo ou oposto?

O pai que desejei
num colóquio abstrato
responde-me:^"Nada sei"
Exilou-se em seu retrato.

O pai que não matei
culpa-me pelo anti ato.
Invoca a irredutível lei,
o cumprimento do pacto.

O pai que em outros persigo
é saudade a que me entrego. 
Matéria de seres tão antigos
quantos filhos dentro carrego?

O pai que procuro
sopro, essência, limite
desaparece no quarto escuro
curva da carne, sinais, grafite.

E nesses avanços sem volta
perde-se o filho pródigo.
Nem recordações, nem revolta
a morte é nosso único código.

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